A FES e SOS Corpo tomaram a iniciativa de propor um ciclo de debates com vistas a promover um espaço de diálogo sistemático e de análise que contribua para fortalecer o feminismo, a democracia e movimentar ainda mais as mulheres. Esta publicação é fruto do debate inaugural desse ciclo, que tratou dos Desafios do feminismo no Brasil, realizado em setembro de 2018, ainda antes do primeiro turno das eleições. Para estimular o debate, quatro convidadas apresentaram seus pontos de vista sobre esses desafios, sintetizados nos textos que seguem. O primeiro, de Carmen Silva, Movimentos feministas: para onde vamos?, parte de uma caracterização da conjuntura brasileira, e do feminismo como um movimento social de mulheres, para analisar a organização política das mulheres e seus desafios a partir do campo que autora denomina como feminismo popular e antissistêmico. Dentre os desafios, a autora destaca: compreender-se na sua diversidade organizativa, situar-se em relação ao campo político da esquerda, unir-se aos outros movimentos sociais no enfrentamento da conjuntura política e econômica, distinguindo para tanto as causas prioritárias e com capacidade de mobilização. O segundo artigo, de Juliana Borges, Mulheres negras: das vidas precárias à alternativa política por liberdade, inicia com análise do sequestro do Estado pelo capital e das relações neoliberais que, ao se estabelecerem, operam por uma política de exclusão de grupos que não têm lugar no sistema. Nesse cenário complexo, as resistências surgem, assim como outras formas de organização e de luta, como a que se constitui a partir dos feminismos negro e interseccional. A autora apresenta algumas premissas desses feminismos: pluralidade, diversidade, anticapitalista e radicalmente democrática em diálogo com autoras como Patricia Hill e Angela Davis. Analisando as relações sociais de poder e o racismo estrutural, a autora chega ao exemplo mais forte da precariedade a que são submetidas as vidas negras o Sistema de Justiça Criminal e chama a atenção para o pouco que ainda se lida com o cárcere feminino. A vulnerabilidade das mulheres no sistema prisional deve ser uma das pautas mais importantes. O terceiro artigo, de Edjane Rodrigues, Desafios do feminismo frente às Políticas Públicas para o campo, que traz a perspectiva de uma jovem liderança sindical rural do interior de Alagoas. Através da sua história de luta por políticas públicas para o campo, a autora mostra a importância das lutas das mulheres agricultoras nas conquistas sociais e políticas, obtidas, em sua maioria, na era dos governos progressistas. Tais conquistas foram interrompidas pelo golpe jurídico-parlamentar-midiático que depôs a presidenta Dilma Rousseff, mas nem isso diminuiu a resistência e disposição de luta das mulheres no campo. O quarto e último artigo, de Priscilla Brito, Feminismo e internet: desafios a partir da relação entre as redes e as ruas, traz a perspectiva do uso da internet pelas feministas para a difusão e debate de ideias e dos desafios colocados nesse campo. A autora versa sobre as possibilidades de ação frente à ascensão da direita conservadora, analisando o impacto da internet na formação das novas gerações feministas. Para tanto, recorre ao conceito de gerações políticas, já que as mudanças não se restringem à juventude e nem são novidades por completo. A autora aborda a interação entre ruas e redes no movimento feminista, tomando o online e off line ou real e virtual como aspectos da experiência social cotidiana. Por fim reflete sobre o papel das feministas que inicialmente são as responsáveis por chamar e mobilizar outras, pois a forma como usam as ferramentas virtuais são novidades nas formas de organização e de conhecimento sobre os repertórios disponíveis para ação.