Este artigo discute a realização do I Festival Nacional da Canção e Música Tradicional (1980-1981) em Moçambique e o reputa como a iniciativa de maior destaque promovida pelo governo da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) no seu projeto de construção nacional durante os primeiros anos após a independência do país no campo musical. Após a descrição e análise da programação deste Festival, recupero o debate acalorado promovido pela grande imprensa da época sobre certos dilemas envolvidos na sua organização e na classificação “música tradicional”. Nos palcos construídos na capital, Maputo, pessoas oriundas das diversas províncias do país passaram a ser conhecidas como artistas, denominação adquirida ao serem instadas a abandonar suas vinculações “tribais”. Argumento que, a despeito das várias transformações políticas pelas quais o país passou nas últimas décadas, especialmente após o fim da guerra civil (1976/1977-1992), o Festival Nacional da Canção e Música Tradicional permaneceu como paradigma. A partir dos anos 2000, a realização de festivais culturais continua sendo uma estratégia central de construção da unidade nacional.